CONTRIBUTOS DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E DO TRABALHO COLABORATIVO PARA O ACESSO ÀS FERRAMENTAS CULTURAIS DA MATEMÁTICA

Resumo

Em Portugal, a disciplina de Matemática é frequentemente associada a elevadas taxas de insucesso académico, sentimentos de frustração e desinteresse, por parte dos alunos, e à construção de representações sociais negativas que os mesmos revelam acerca dessa disciplina. Acedermos às representações sociais que os alunos constroem sobre a Matemática é importante para desenvolvermos práticas, em aula, que lhes possibilitem aceder ao sucesso escolar. O trabalho colaborativo assume-se como ferramenta mediadora entre os alunos, o professor e os conhecimentos matemáticos. Para tal, é preciso existir um contrato didáctico coerente, recorrendo a tarefas de natureza diversificada e a um sistema de avaliação adequado, promovendo o acesso dos alunos às ferramentas culturais da Matemática. A construção de espaços/tempos dialógicos, associados ao trabalho colaborativo, permite-lhes apropriarem os conhecimentos matemáticos, bem como desenvolverem capacidades e competências, tais como argumentação sustentada, autonomia, responsabilização e sentido crítico. Possibilita, também, que os alunos actuem como participantes legítimos nos processos de aprendizagem, promovendo formas de distribuição de poder, que contribuam para dar voz(es) a todos os participantes. Este trabalho insere-se no projecto Interacção e Conhecimento. Assume um paradigma interpretativo e um design de investigação-acção. Os participantes foram os alunos de uma turma de 8.º ano de escolaridade, o professor/investigador e outros dois observadores. Os instrumentos de recolha de dados foram um instrumento de avaliação de capacidades e competências (matemáticas), tarefas de inspiração projectiva, questionários, observação, conversas informais, recolha documental e protocolos dos alunos. O tratamento e análise de dados baseou-se numa análise de conteúdo narrativa, sucessiva e aprofundada, de onde emergiram categorias indutivas de análise. Os resultados apresentados focam-se na trajectória de participação, em aula, da Paula (nome fictício), escolhida enquanto exemplo paradigmático. Analisamos as três tarefas de inspiração projectiva e alguns elementos relativos aos desempenhos matemáticos. Iluminam-se as potencialidades que o trabalho colaborativo pode ter na mudança e/ou manutenção das representações sociais sobre a Matemática, na apropriação dos conhecimentos (matemáticos), na mobilização e/ou desenvolvimento de capacidades e competências (matemáticas), bem como nos processo de socialização dos alunos.